quarta-feira, 9 de março de 2011

Dois prá lá, um prá cá

Um passo, a dança. Uma dança, o passo.


Em Pas de danse (http://www.sintomnizado.com.br/pasdedanse.html), projeto do bailarino Samuel Kavalerski, o movimento aparece com o deslizar do mouse, no estreito espaço entre duas figuras, e depende da velocidade e vontade de quem está observando. A sequência e a ligação dos 11 pas nos levam a questionamentos bem-humorados e inteligentes da dança, no projeto que começou há alguns anos, mas que ainda inquieta. Para sempre plié?, nos deparamos em algum momento.

Pas de danse tem a tradução literal como “passo de dança”, mas “pas”, em francês, também é advérbio de negação. Nesse caso, teríamos “não dança” ou “sem dança”. Samuel joga nessa linha delicada entre a dança e sua falta; entre humano e intermediações eletrônicas.

Samuel Kavalerski é bailarino. E inquieto. Passou pela Balé do Teatro Guaíra, pela Quasar Cia de Dança, de Goiânia, e pensou em parar de dançar. A decisão estava tomada, mudou-se para Paris. Ficou sabendo da audição para a São Paulo Companhia de Dança e resolveu dançar mais um pouco.

A seguir, uma pequena entrevista sobre o projeto em que dança e internet se apresentam em um diálogo possível.
Gostaria que contasse um pouco como surgiu o projeto

Já há um tempo eu trabalhava com um programa de animação e criação de web sites chamado Flash. No meu trabalho de conclusão do curso de Artes Visuais eu desenvolvi uma animação interativa, chamada O Corpo do Príncipe (www.sintomnizado.com.br/ocorpodoprincipe.html). Ali, a dança era o tema do meu trabalho. Eu usava a linguagem da internet e a sua principal especificidade, a interação, para falar de dança e de um dos estereótipos do balé clássico.

Depois desse trabalho, eu sempre fiquei imaginando como eu poderia criar algo que fosse tanto um website quanto uma coreografia. Eu não queria só usar a dança como tema de um site, eu queria fundir as linguagens, falar de interação e de dança simultaneamente.

Em 2007, quando eu saí da Quasar, fui morar em Paris com o objetivo claro de não dançar mais. A minha relação com a dança tinha se esgotado de uma maneira bem intensa. Acho que uma parte importante do conceito de "não dança" do trabalho vem desse sentimento. Nesse período que eu passei na França, eu tinha muito tempo livre. Andava pela cidade enquanto pensava muito sobre muitas coisas. Aos poucos foi se consolidando o formato do Pas de Danse: a ideia de uma dança formada por fotografias, como uma animação em stop motion, cujo ritmo e velocidade seria dado pela interação de quem fruísse a obra.

Quando um passo de dança é uma não-dança?

Acho que, na vida real, qualquer passo pode ser uma dança. Basta alguém declará-lo.

No mundo dança, fala-se muito da importância dos passos de ligação. Seria nesse "entre" das formas que moraria a essência da dança, nesse caminho entre uma pose e outra. Eu gosto bastante dessa ideia e dou muita importância a isso. O que acontece com o Pas de Danse é que a sequência de imagens cria a ilusão de dança, mas lhe falta justamente a ligação entre as poses, lhe falta a essência da dança, o movimento. E por ser contra, por ser o oposto e se denominar "não-dança", ele passa a sê-lo.

O que é importante na dança para você?

Ultimamente tenho dado muita importância para a beleza. Acho que o mundo contemporâneo tende a nos levar para dois pontos perigosos: uma tecnicidade quase mecânica e uma conceitualização que parece funcionar como um repelente. São tendências cujos valores são essenciais e reconhecidos, mas acho triste quando elas pretendem tomar conta de tudo e acabam transformando a arte em algo frio e desinteressante. Tenho me sensibilizado com coisas belas, não no sentido matemático de proporções ideais, mas sim no que a beleza tem de sublime, de encantador. São situações raras, na maioria das vezes impalpáveis, mas valem muito a pena.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Comentários sobre Antonio Nóbrega

Ainda sobre Antonio Nóbrega. Fui à aula-show indicada no post anterior (como disse, ela deve percorrer 15 cidades brasileiras) e durou cerca de 1h30. Ele sozinho no palco, entre instrumentos, cenário e um computador (sim, suas referências estavam anotadas).

Há seu carisma, claro, que nos faz cúmplices do que tem para contar. Mas me impressionou dominar o palco de um jeito aparentemente natural, sem outros recursos além do que tinha para contar. Quem consegue dançar em círculos e ser grandioso, sem afetação? Pois Nóbrega, logo no início, faz isso dançando e evocando o que ele chama das três matrizes da cultura brasileira: indígena, europeia (Portugal) e africana.

Ele tem o que dizer, ele tem o que dançar e sua dança me cativa. Conhecedor e inquieto com essa formação das danças brasileiras, ele conseguiu abrigar em seu corpo as nuances de várias vertentes, como frevo e capoeira, e criar um modo único de se mover, rico e instigante. Tamanha habilidade faz seus movimentos leves e elegantes, um Fred Astaire contemporâneo. E parece fácil, uma brincadeira com o corpo. Há um recurso que me chamou atenção desta vez, o uso do ataque para começar um movimento, que desacelera gradualmente em sua sequência, até outro passo firme. Assim, ele brinca no espaço que faz grande.

Sempre quero ver mais.

Antonio Nóbrega. Foto: Walter Carvalho

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sonho

Antonio Nóbrega
Há dias que acordo e gostaria de dançar como ele. Seu trânsito, que o fez reconhecido artista, entre o erudito e o popular é sempre cheio de belezas.
Uma dica. O músico e dançarino Antonio Nóbrega apresenta uma aula-espetáculo Mátria: Uma Outra Linha de Tempo Cultural, no Itaú Cultural, nesta quarta, 23 de fevereiro, 20h, em São Paulo. Até junho segue para outras 15 capitais brasileiras.

Para quem se interessar, mais informações: http://www.itaucultural.org.br/

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Passagem

O som do piano, quando passo em frente a alguma escola de dança, me leva a lugares imprevistos da memória. Sinto um pouco a alma da dança nesses momentos.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Espaço da dança no cinema


O espaço e o tempo, um assunto caro à dança, neste curto filme de Maya Deren (1917-1961), A Study in Choreography for Camera, 1945. Os primórdios do cinema experimental com o bailarino Talley Beatty.

Invadir espaços, editar o tempo, e a dança a serviço do cinema. Maya conhecia dança e cinema e apostou no diálogo entre movimento e plano.

A câmera de 16 mm, comprada em segunda mão, foi seu suporte nos filmes que a tornaram referência desse modo de encarar o cinema na década de 1940.



terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Fotos da Luiza

Durante dois anos, a Luiza Lopes andou atrás de mim pedindo fotos. E eu dizendo que nem sempre era possível por conta dos direitos autorais, etc. etc. Ironia do destino, para fazer o post sobre a São Paulo Companhia de Dança eu pedi para publicar uma foto dela. Ela foi muito melhor do que eu, disse que poderia usar na hora. Precisava e queria agraceder.

A Luiza é um dos destaques da Companhia, tem físico invejável, braços e pernas longas, esbelta e ótima extensão. Durante os mesmos dois anos, eu sempre dizia: "concentração, Lu, concentração para você superar isso ou aquilo". Contudo, nada disso seria importante se ela não tivesse um enorme prazer em dançar. No palco, ela tem uma energia que toca a plateia e faz com que todos vibrem com ela.
Eu continuo dizendo, "concentração, Lu, concentração!"




Tchaikovsky pas de deux, de Balanchine | Foto: divulgação| Reginaldo Azevedo

SPCD, saudades

Elenco SPCD 2011, com Richard Cragun. Foto: Luiza Lopes 

No fim de semana, encontrei Iracity Cardoso e Inês Bogéa no teatro. Todas fomos ver o Balé do Teatro Castro Alves.
Nesse ambiente, senti saudades das temporadas passadas, quando trabalhava na São Paulo Companhia de Dança. Senti falta principalmente das horas antes de abrir as portas ao público, quando a ansiedade e expectativa davam frio na barriga. Torcia (e torço) pelos bailarinos porque acompanhava o dia a dia, sabia quase todas as histórias e era impressionante a transformação no palco. Tem nova temporada em março.

Merde, queridos! Em breve dou notícias sobre as duas estreias.