quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Comentários sobre Antonio Nóbrega

Ainda sobre Antonio Nóbrega. Fui à aula-show indicada no post anterior (como disse, ela deve percorrer 15 cidades brasileiras) e durou cerca de 1h30. Ele sozinho no palco, entre instrumentos, cenário e um computador (sim, suas referências estavam anotadas).

Há seu carisma, claro, que nos faz cúmplices do que tem para contar. Mas me impressionou dominar o palco de um jeito aparentemente natural, sem outros recursos além do que tinha para contar. Quem consegue dançar em círculos e ser grandioso, sem afetação? Pois Nóbrega, logo no início, faz isso dançando e evocando o que ele chama das três matrizes da cultura brasileira: indígena, europeia (Portugal) e africana.

Ele tem o que dizer, ele tem o que dançar e sua dança me cativa. Conhecedor e inquieto com essa formação das danças brasileiras, ele conseguiu abrigar em seu corpo as nuances de várias vertentes, como frevo e capoeira, e criar um modo único de se mover, rico e instigante. Tamanha habilidade faz seus movimentos leves e elegantes, um Fred Astaire contemporâneo. E parece fácil, uma brincadeira com o corpo. Há um recurso que me chamou atenção desta vez, o uso do ataque para começar um movimento, que desacelera gradualmente em sua sequência, até outro passo firme. Assim, ele brinca no espaço que faz grande.

Sempre quero ver mais.

Antonio Nóbrega. Foto: Walter Carvalho

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sonho

Antonio Nóbrega
Há dias que acordo e gostaria de dançar como ele. Seu trânsito, que o fez reconhecido artista, entre o erudito e o popular é sempre cheio de belezas.
Uma dica. O músico e dançarino Antonio Nóbrega apresenta uma aula-espetáculo Mátria: Uma Outra Linha de Tempo Cultural, no Itaú Cultural, nesta quarta, 23 de fevereiro, 20h, em São Paulo. Até junho segue para outras 15 capitais brasileiras.

Para quem se interessar, mais informações: http://www.itaucultural.org.br/

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Passagem

O som do piano, quando passo em frente a alguma escola de dança, me leva a lugares imprevistos da memória. Sinto um pouco a alma da dança nesses momentos.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Espaço da dança no cinema


O espaço e o tempo, um assunto caro à dança, neste curto filme de Maya Deren (1917-1961), A Study in Choreography for Camera, 1945. Os primórdios do cinema experimental com o bailarino Talley Beatty.

Invadir espaços, editar o tempo, e a dança a serviço do cinema. Maya conhecia dança e cinema e apostou no diálogo entre movimento e plano.

A câmera de 16 mm, comprada em segunda mão, foi seu suporte nos filmes que a tornaram referência desse modo de encarar o cinema na década de 1940.



terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Fotos da Luiza

Durante dois anos, a Luiza Lopes andou atrás de mim pedindo fotos. E eu dizendo que nem sempre era possível por conta dos direitos autorais, etc. etc. Ironia do destino, para fazer o post sobre a São Paulo Companhia de Dança eu pedi para publicar uma foto dela. Ela foi muito melhor do que eu, disse que poderia usar na hora. Precisava e queria agraceder.

A Luiza é um dos destaques da Companhia, tem físico invejável, braços e pernas longas, esbelta e ótima extensão. Durante os mesmos dois anos, eu sempre dizia: "concentração, Lu, concentração para você superar isso ou aquilo". Contudo, nada disso seria importante se ela não tivesse um enorme prazer em dançar. No palco, ela tem uma energia que toca a plateia e faz com que todos vibrem com ela.
Eu continuo dizendo, "concentração, Lu, concentração!"




Tchaikovsky pas de deux, de Balanchine | Foto: divulgação| Reginaldo Azevedo

SPCD, saudades

Elenco SPCD 2011, com Richard Cragun. Foto: Luiza Lopes 

No fim de semana, encontrei Iracity Cardoso e Inês Bogéa no teatro. Todas fomos ver o Balé do Teatro Castro Alves.
Nesse ambiente, senti saudades das temporadas passadas, quando trabalhava na São Paulo Companhia de Dança. Senti falta principalmente das horas antes de abrir as portas ao público, quando a ansiedade e expectativa davam frio na barriga. Torcia (e torço) pelos bailarinos porque acompanhava o dia a dia, sabia quase todas as histórias e era impressionante a transformação no palco. Tem nova temporada em março.

Merde, queridos! Em breve dou notícias sobre as duas estreias.
  

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Balé Teatro Castro Alves | Crítica

A Quem Possa Interessar. Crédito: Divulgação
A Quem Possa Interessar é a coreografia de Henrique Rodovalho feita sob encomenda para o Balé Teatro Castro Alves. Um encontro de histórias delineadas em tempos e propósitos distintos. De um lado, o criador da Quasar Cia de Dança, de Goiás, inquieto e urbano, para quem explorar os limites dos movimentos e suas reverberações no corpo se tornou marca registrada. De outro, a companhia baiana com bailarinos em idade entre 35 e 60 anos, formada em 1981, sob o comando de Antonio Carlos Cardoso, cuja característica foi saber dosar a dança formal às manifestações populares. O trabalho traz como grande riqueza o diálogo em que visivelmente os dois lados foram ouvidos. A estreia foi em agosto passado, no teatro da companhia, em Salvador. Em São Paulo, o grupo fez uma série com três coreografias no teatro do Sesc Vila Mariana, de 10 a 13 de fevereiro. As outras duas, À Flor da Pele, de Ismael Ivo, e 1Por1PraUm, de Jorge Vermelho, atual diretor. (Infelizmente, só vi apenas a primeira, motivo da crítica).


Foi uma peça feita em parceria, nos informa o programa. Rodovalho sugeriu que cada um dos 24 bailarinos resgatasse experiências, gostos e trajetórias. Pediu depoimentos e os gravou. A Quem Possa Interessar inicia-se justamente com as palavras dos bailarinos contando desejos e histórias de vida. Passando de uma a outra confidência, eles dançam sozinhos, acompanhando suas vozes. Não recriam exatamente o que dizem, interagem com as situações narradas, de modo bem humorado e leve. Não é a primeira vez que Rodovalho usa o recurso, em Coreografia para Ouvir, de 1999, uma de suas maiores obras, a Quasar foi buscar nas vozes de artistas regionais motivos para dançar. Mas diferentemente desse trabalho, a atual obra intercala depoimentos com canções, gravadas e ao vivo cantadas pelos próprios artistas.

Rodovalho também imprimiu seu estilo, sem exigir, contudo, que os corpos já mais velhos conquistassem o vigor dos seus bailarinos. Mas está tudo lá, os movimentos a um só tempo pouco simétricos e fluentes, o uso do chão, a luz pontuando a cena, os desenhos coreográficos, o humor. Aproveitou a afinação e colocou a interpretação em cena. Respeitosamente, não expôs nenhum integrante ao que não podiam, não há qualquer habilidade que transpareça buscar um tempo sem volta, de energia e de virtuosismo.

Se Rodovalho entendeu a leveza e o caldeirão cultural da companhia bahiana, os bailarinos retribuíram esforçando-se para devolver corporalmente com seu estilo. Há certa secura e precisão, características do coreógrafo, mas também ginga. Os momentos mais memoráveis estão nesse encontro, em particular quando os homens dançam em conjunto ou quando todos, ao cantar e dançar, ocupam distintas porções do palco.

Em um balé como esse não escapa a dimensão humana e, por se alongar um pouco, o sentimentalismo tira parte do impacto. Não perde, no entanto, o valor de restaurar a dança em seu tempo e lugar.

Veja outros lados da mesma coreografia em Tudo é Dança.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Volta

Agora tenho companhia para o blog. Minha amiga Marcela Benvegnu, do Tudo é Dança, prometeu um diálogo. Vai voltar a postar.

Como a blablablá da história, eu faço coro para a tititi ficar na internet mais tempo.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Retrato

Crédito: REUTERS Flauraud Valentin



Muitos sonham com este reconhecimento. Mayara Magri,16 anos, foi vencedora do Prix de Lausanne, Suíça. É a primeira brasileira com esse mérito em um ano que teve no júri Iraticy Cardoso, atual diretora da São Paulo Companhia de Dança, também primeira brasileira a ocupar este papel.
Aparentemente, a natureza lhe favoreceu: tem pernas e braços longos e ótima extensão. Com o trabalho, ganhou beleza nos movimentos e firmeza na execução. E, claro, o carisma. Como muitos bailarinos, Mayara começou a dançar no projeto Dançar a Vida. Que seja apenas o primeiro passo de uma longa carreira.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Companhia

Ela tem uma Companhia. Me diz que é só de criança.

Já não posso participar.




A dança de cada dia

A dança é uma das atividades curriculares de artes das escolas públicas e divide com a música o maior grau de dificuldade para professores. Para dar aulas de dança, é preciso recurso técnico, boa formação, mas para saber movimentar o corpo e usá-lo como ferramenta do dia a dia é preciso despertar para pequenas informações.

Duas atividades gratuitas para professores do ensino regular e arte-educadores mostram como o corpo é aliado na sala de aula. Não são cursos de formação, mas alimentam a consciência para o que anda esquecido em tempos atuais.

Um dos eventos é a Palestra com o Professor, da São Paulo Companhia de Dança, ministrada pela diretora Inês Bogéa, dia 19, às 10h, em São Paulo, na sede da Companhia, com o tema Vida de Bailarino.

O outro é o workshop com Ivaldo Bertazzo, já com as inscrições encerradas, para multiplicadores de seu método, nos dias 11, 18 e 22 de fevereiro.

Foto: Palestra com o Professor
crédito: Divulgação | Wilian Aguiar

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sapatilhas sem agonia

O balé clássico está sempre com os dias contados. Decretar sua morte ou sua inutilidade é provovação certeira de nossos dias.

Só remontar os grandes clássicos é desgastante, mas ficar sem eles é empobrecedor. No equilíbrio entre passado e presente, as melhores montagens procuram a essência, sem esquecer que os corpos são diferentes, as interpretações divergem e o tempo é outro. Há o desafio técnico desses grandes balés - como O Lago dos Cisnes, para usar o exemplo da moda - que se perpetua entre bailarinos, é verdade, e se vulgarizou em certa medida. Contudo, a dança ainda é uma arte que se transmite de corpo para corpo. Grandes companhias sabem disso e não montam uma obra sem um remontador oficial - quem viveu no corpo a técnica, a emoção, a intenção quase sempre em uma linha direta com o coreógrafo. É um dos belos encontros da dança e a história sobrevive nesse movimento entre gerações. Não vale a pena ficar sem esta parte da dança!
Foto: Ulyana Lopatkina and Danila Korsuntsev

Créditos: Natasha Razina and the Kirov/Mariinsky Ballet ©

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mais uma vez

De volta ao blog, sem nunca ter saído da dança.