quarta-feira, 11 de julho de 2007

Corpo Invisível

Mês passado (edição de junho) saiu uma matéria minha na Revista TPM, com o mesmo título citado acima. O texto a seguir está na íntegra, sem os ajustes finais da revista.

Corpo Invisível

Tudo começou com uma dor nas costas e duas perguntas: o que o corpo feminino suporta hoje? Quais suas travas? Aliviada a dor, ainda questionei: quais suas expectativas? Na reportagem que você lê a seguir, quatro engenheiros do corpo feminino contam por que achamos normal viver travadas, com dores nas costas, nos ombros, nos joelhos....

Sentir dores nas costas, ombros, pernas, joelhos e ver corpos novos, de 20 ou 30 anos, quase imobilizados tornaram-se coisas comuns. Estranho pensar assim? Mais esquisito ainda é perceber que tantas dores e incômodos estão longe de ser normais e só damos atenção a eles quando a luz vermelha acende. Ou seja, quando percebemos que deixamos de fazer coisas legais – e vitais – por limitações corpóreas que não deviam existir na nossa idade.

Alguns séculos atrás, o corpo era apenas o veículo de nossa alma, indigno, portanto, de sequer ser lembrado. Em tempos atuais, ele entrou na ordem do dia e todo mundo, mesmo que não esteja pensando 24 horas nisso, carrega alguma preocupação ou cuidado. Por isso, em busca de saúde ou de beleza, muitos se comprometem com algumas horas de exercícios na semana. Mas, de modo geral, há um descompasso na situação porque, repetidas vezes, movimentar-se ficou tão prazeroso quanto enfrentar uma longa fila no banco. Cumpre-se uma obrigação com o corpo e, depois, ele é eliminado das atenções do resto do dia.

É aí, nessa dissociação, que está a causa de tantas dorzinhas ou travas. De modo prático, o corpo que faz exercícios é o mesmo que vai ao supermercado, ao cinema, à festa, ao bar, à escola do filho. Com ou sem barriga, com mais ou menos celulite, ele não é uma entidade separada da vida. O certo é que muitas vezes só o percebemos quando ele “fala mais alto”, incomoda ou, mais grave, trava.

Ao mesmo tempo em que hoje contamos com uma supersofisticação profissional, ainda somos meio brutas quando pensamos nele: não conseguimos saber direito para quê o corpo serve e como pode nos ajudar a melhorar concretamente o dia-a-dia. É fácil cair na armadilha de que o ideal ainda é ser magra, magérrima para dar a exata medida. Nesse caso, a frase do psicanalista Eduardo Furtado Leite é pontual: “A mente sã em corpo são tornou-se promessa de mente satisfeita e feliz em corpo explorado, otimizado, construído com recursos científicos ou não”.

À vontade de manter o corpo alinhado aos padrões atuais soma-se o exagero em exercícios descabidos, dietas malucas, sacrifícios no lugar do prazer. E o corpo perfeito não chega, não aparece. Na combinação entre trabalho intenso e muito exercício, um dia o corpo pára, sem mais nem menos. Dores nas costas insuportáveis preocupam mulheres de 20 e poucos anos, as pernas sofrem para subir escadas.

Se isso não acontece com você, com certeza tem aquela amiga que vive reclamando do mal-estar com o corpo. Ombros, costas, quadris, joelhos – nesses lugares, estão os pontos de enrijecimento do corpo feminino mais freqüentes. E é triste constatar que isso é fruto de um envelhecimento precoce – isso mesmo, aos 20 e poucos anos – que significa mais inabilidade para o movimento do que idade avançada.

E tanta dor pode comprometer o desejo sexual, porque o corpo não consegue mexer-se com facilidade, para desgosto das que lutaram por essa liberdade. “Se eu for pensar em tensões atuais, a tendência da mulher não era ter dor nos ombros. Hoje elas têm. São couraças atuais e que não são originadas em traumas da infância, são mecanismos de defesa”, diz o psicoterapeuta José Eduardo Abdallah. Entre outras fontes, ele trabalha com base nas idéias do psiquiatra e discípulo dissidente de Freud, Wilhelm Reich, que defendia que o corpo acumula tensões em pontos específicos, com fundo emocional, bloqueando o fluxo natural de energia. Sendo assim, José Eduardo acredita que 95% das dores são somatizações ou “couraças musculares”.

Ivaldo Bertazzo, Bianca Marinho, Silvia Soter e José Maria Carvalho são profissionais que estudam o corpo, seu movimento, sua força e sua função. Criadores de métodos e teorias diferentes sobre corpo e movimento,os quatro revelaram a mesma opinião de que o corpo feminino sofre, não raro, as conseqüências de duas palavras já institucionalizadas: jornada dupla. Em geral, os efeitos desse corpo travado vêm de uma rotina de ficar muito tempo sentada e das tensões do trabalho, da casa, do trânsito. Entre muitos estudos que se debruçam sobre os rumos do corpo, esses profissionais o estudam e pensam de forma sistemática e, sem serem impositivos, nos dão alguns caminhos para entendermos o que o corpo feminino carrega e suporta. Com diferentes visões, a seguir, eles falam de suas técnicas e de como o corpo, afinal, é integrado à vida, mesmo que, muitas vezes, pareça invisível.

Matéria publicada na Revista TPM, edição 66, junho de 2007.

2 comentários:

Unknown disse...

Seja bem vinda, Flá. :-)

FUT - Escola de Craques disse...

Eu acredito que esse mundo precisa de mudanca, pois do jeito que esta' nao da', mas minha IRMA ter um blogger e' mudanca demais... mas... tudo bem, temos que nos adaptar as mudancas, nao e' mesmo??? hehehe FLA (GB)TE AMO ... bjosssssssss Fa