quarta-feira, 11 de julho de 2007

Uma coisa de cada vez

Em um dia comum, distraídos dos próprios movimentos, fazemos tudo no “piloto automático” e com pressa: falamos ao telefone, mandamos e-mails, entramos e saímos do carro. Muitas vezes, duas ou três ações são coordenadas ao mesmo tempo. Nessa afobação a que somos submetidos diariamente e sem conseguirmos fazer uma coisa de cada vez, não é difícil o corpo perder suas habilidades, ficar travado e, o que parece mais grave, começar a se privar de situações comuns, como subir e descer escadas. “As pessoas não têm ânimo para fazer alguns movimentos. Você fala, vamos fazer uma caminhada? O joelho e as articulações doem. Cada vez o movimento machuca mais e apresenta dificuldade para a pessoa. Ela sente dor, incômodo ou pouca habilidade e vai deixando de fazer, vai se privando pouco a pouco”, diz José Maria Carvalho, coreógrafo e diretor do Espaço Arte e Viver, em São Paulo, que usa o método Feldenkrais. Antes de seguir, é importante colocar que o método trabalha o movimento, não o corpo. De modo objetivo, ele busca maneiras de melhorar uma função como deitar, levantar. “O movimento parece que é aquilo que a gente mais sabe. Muitas vezes você sente alguma coisa e só vai ter certeza daquilo quando amplia e vira um movimento. A respiração se ofega, a musculatura se contrai”, diz José Maria. No que compete ao seu trabalho, ele ensina que é preciso fazer uma coisa de cada vez. Em um único exercício de feldenkrais, cada movimento tem começo, meio e fim. “Para viver em São Paulo (ou em outra cidade grande), você precisa fazer muitas coisas, mas é importante ter a capacidade de fazer uma de cada vez”, afirma. Para o coreógrafo, o acúmulo de várias ações é a principal causa das travas corpóreas. “Com o tempo, nosso corpo não consegue mais fazer bem aquelas funções que nasceu para fazer como levantar, sentar, andar.” Mais que isso, as dores despontam. Primeiro as dores nas costas, as mais comuns, segundo José Maria. Em estados um pouco mais complicados, as pessoas sentem incapacidade de agachar, porque não têm mais articulações nos quadris, ou sentem dificuldades para andar porque os joelhos estão deformados. “Depois, aparecem hérnias de disco, bicos de papagaio.” Nas suas aulas, ele conta, grande parte das pessoas chega pensando na boa forma e não no corpo como um instrumento funcional, que permite a elas ter qualidade de vida, com 20, 30, 40, 50 ou 90 anos. “Exercitar o corpo não nos dá funcionalidade, mobilidade, desenvolvimento, pode ser que sim e pode ser que não. Trabalhar o movimento funcional sim. Necessariamente traz um corpo bonito, capaz de realizar as funções nas várias idades da vida, com desenvoltura e leveza.”

Publicada na revista TPM - edição 66, junho de 2007

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