terça-feira, 24 de julho de 2007

Retomando a história






Na próxima semana, o Grupo Corpo estréia nova temporada, em São Paulo, à moda de uma fórmula testada e reinventada por ele mesmo: a união de quatro elementos de cena, coreografia, trilha sonora especialmente composta, figurino e cenário. Breu, de Rodrigo Pederneiras, tem colaboração de Lenine como compositor.

Segundo a divulgação do espetáculo, Pederneiras reconstrói seu vocabulário. Despede-se da evidente sensualidade e da fonte popular, por exemplo, para um código de estranhamento, como o uso mais assíduo do solo. Com essa expectativa, a companhia mineira tenta recriar o próprio caminho, como fez no início da década de 1990.

Passado e futuro

Do ponto de vista coreográfico, 21, peça de 1992, representou o ponto de encontro entre passado e futuro, e iniciou de forma mais clara a combinação de movimentos da tradição clássica (que é a base de formação dos bailarinos da companhia) aliada a impulsos vindos das danças populares, das tradições locais e do próprio modo de se movimentar no Brasil, que resultaram no jeito de dançar da companhia. Com trabalhos como esse, e sistematicamente, o Grupo Corpo ajudou a encabeçar a noção de uma dança brasileira, sem estereótipos. Essa noção não era mais ligada a uma dança nacional estilizada em gestos clássicos nem estava vinculada à idéia de passos com pendores folclóricos ou exóticos. Embora as coreografias de Rodrigo Pederneiras dessa época não eliminem nenhuma dessas idéias, os resultados retomam criticamente o caldeirão de influências e a história da nossa dança – e até mesmo da nossa falta de tradição.

Sobre esse assunto, Arthur Nestrovski escreveu: “[...] o Grupo Corpo inventou o Brasil muitas vezes. Invenção é melhor que descoberta, porque não se trata simplesmente de recolher o que está aí, ou encontrar o escondido. ‘O papel do artista criador não é figurar uma nacionalidade, mas transfigurá-la’, já dizia Mário de Andrade (numa carta ao compositor Camargo Guarnieri, de agosto de 1934). As transfigurações brasileiras eram uma questão em 1975, em pleno período da repressão militar, e são outra hoje, quando aquilo a que se resiste não tem rosto, nem definição clara. Mas num como noutro contexto, as intuições de uma arte do Brasil estão no centro de tudo o que o Corpo faz – no centro ou à frente, como uma pedra ou um quadrado, atrás do qual se vislumbra um estilo de ser.”[1]

O Grupo Corpo, nessa década de 1990, reconstitui e amplia a trajetória da dança brasileira. Pode-se dizer também que a internacionalização da dança nacional, em grande medida, passa por seu desempenho e sua ascensão à época. Esse ápice não representava uma ruptura com o passado da companhia, mas uma evolução desde seu surgimento nos anos 1970.
Os anos 2000

O primeiro trabalho dos anos 2000, O Corpo, com música de Arnaldo Antunes, teve a intenção de apontar um novo caminho. Ainda que o tema árido das cidades fosse distintos de espetáculos anteriores como Parabelo (1997), o modo de coreografar manteve-se apoiado na maneira de ocupar o espaço e de se movimentar de peças da mesma época.

Santagustim (2002) e Onquotô (2005) revelam novamente a manutenção da linha de criar de Rodrigo Pederneiras: várias seqüências simultâneas que se complementam, sem jamais se chocar, valorizando o palco, os gestos, a posição do conjunto dos bailarinos.

Ao que parece, Breu vem com um novo olhar para o corpo contemporâneo, com uma ruptura dos padrões que já qualificaram o grupo, como o jogo de quadris e a rapidez nos braços e pernas.

foto: José Luiz Pederneiras

[1] NESTROVSKI, Arthur. “Faca das Palmas”. In: BOGÉA, Inês (Org. e apresentação). Oito ou nove ensaios sobre o Grupo Corpo. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2001.

Um comentário:

Unknown disse...

oi flávia, gostaria de ter seu email... é possível?
beijos
Márcia