É de desgastar que, mesmo quando cansadas, ainda assim não conseguimos perder de vista o padrão “lindas, loiras e de batom”. A frase é da carioca Silvia Soter, professora que trabalha consciência corporal (ela também é bailarina e crítica de dança), por meio do método Ehrenfried. Essa situação em muito se deve à falta de reconhecimento do próprio corpo: é como se ele fosse um objeto estranho, que levamos para passear, correr, comer e, mais longe, moldamos sem parar. Existe, no seu entender, um desajuste entre o que vemos e o que esperamos para o corpo feminino. “Há uma exigência de padrão junto com uma insatisfação do corpo para fora, da imagem”, diz. Não por acaso, as cirurgias plásticas são tão procuradas. Outra questão importante, a preocupação com a aparência também machuca fisicamente algumas mulheres. Na observação de Silvia Soter, muitas chegam com problemas físicos devido ao exagero, à falta de limite na hora de malhar. Em outra situação limite, o sedentarismo é outro vilão do corpo. “Muitas profissionais vivem do carro para o elevador, do elevador para o carro. Entram no escritório, digitam o dia inteiro, são supersolicitadas no trabalho, em casa precisam organizar a vida dos filhos ou só a dela”. Não é difícil prever a tensão desse corpo, com dores nas costas, nos quadris, nos joelhos. A solução proposta por ela está em buscar movimentos que potencializem a capacidade da mulher em cada etapa da vida. “Quando a mulher consegue habitar o próprio corpo de uma forma melhor, a insatisfação fica mais relativa”, diz, lembrando que ela usa a respiração para ajudar a organizar o movimento. “Muitas pessoas chegam aqui dizendo que querem corrigir a postura. Mas é importante entender que, em uma única pessoa, a boa postura se harmoniza com a necessidade da vida”. Ou seja, o corpo precisa de flexibilidade para viver as emoções. Em suas aulas, em média, a variedade de idade das mulheres oscila entre 13 a 80 anos – por curiosidade esta é também a condição dos outros entrevistados. “Eu sinto, como primeira questão, que elas querem se adaptar às necessidades e limites da idade. Eu ajudo fortalecendo as potências de cada uma. Envelhecer não é perder, é preciso aprender a usar melhor a capacidade do corpo nas diferentes fases da vida”.
Publicada na revista TPM - edição 66, junho de 2007
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